O homem não quer ser livre porque é egoísta.

A primeira tentação do deserto feita a Jesus é que ele converta as pedras em pão. O pão. Que representa todos os bens materiais que o homem poderia conseguir. Precisamente por isso, é que o homem tem medo de ser livre. Não está disposto a compartilhar as coisas que possui.

Não há e jamais houve nada de mais intolerável para o homem e a sociedade do que partilhar.

O homem não quer ser livre porque prefere fugir da realidade

É próprio da natureza humana, repelir o milagre, e, nos momentos graves da vida, diante das questões capitais e dolorosas, agarrar-se à livre decisão do coração?


É evidente que não. O homem prefere recorrer ao milagre, porque é sobretudo o milagre que ele procura. E como não saberia passar sem ele, forja novos milagres, os seus próprios, inclinando-se diante dos prodígios de um mágico e dos sortilégios de uma feiticeira.

O homem não quer ser livre porque prefere viver submisso.

E por ultimo, a derradeira tentação. A proposta de que Cristo adore Satanás em troca de todos os reinos do mundo. O homem, que foge de assumir a responsabilidade da própria liberdade não tem outra escolha a não ser submeter-se à vontade de outrem, capaz de decidir e de assumir.

Posto em presença de tais prodígios, de tais enigmas, uns rebeldes furiosos, destruir-se-ão a si mesmos, e outros, rebeldes, porém fracos, multidão covarde e miserável, se arrastarão aos pés da superclasse, gritando: «Sim, tínheis razão, somente vós possuíeis seu segredo e nós voltamos a vós; salvai-nos de nós mesmos[...]». Compreenderão enfim o valor da submissão definitiva.

Decerto, serão sujeitados ao trabalho, mas nas horas de lazer suas vidas parecerão um brinquedo de criança, com cantos, coros, danças inocentes. Poderão até pecar – são fracos – e amarão a superclasse por isso.